segunda-feira, 25 de outubro de 2010

pss2 - A ÉTICA PROTESTANTE E O CAPITALISMO

Título: A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo

Autor: Max Weber

Tema Principal: A associação do ideário Capitalista ao Protestante.

Temas Secundários: Calvinismo; Acumulação de capital; Ascetismo secular protestante.

Palavras-Chave: Predestinação; Ascetismo Laico; Doutrina Calvinista; Vocação; Luteranismo; Pietismo; Metodismo; Seitas batistas; Encontro Quaker.

Resumo do Texto

Em seu estudo, realizado na Alemanha – País protestante – Weber constatou que os protestantes estavam melhor posicionados na sociedade que os Católicos. A partir desta constatação inicial, ele percebeu, mais adiante, que alguns segmentos do protestantismo, por causa de suas índoles, estavam mais aptos, filosoficamente falando, a desenvolver o capitalismo em sua amplitude.

Através de citações de Benjamim Franklin, conseguimos compreender onde Weber pretende chegar: “Lembre-se que crédito é dinheiro. Se um homem deixa seu dinheiro em minhas mãos por mais tempo que o devido, está me dando juros, ou tudo o que eu possa fazer com ele durante esse tempo. Isto atinge somas consideráveis quando alguém goza de bom e amplo crédito, e faz dele bom uso”. (p.46). Podemos perceber que fazer bom uso do capital (ou seja, gerar mais dinheiro) é recomendável. Deixar de obter lucro não se caracteriza aqui como tolice ou desprendimento, é omissão do dever. “Essa é a essência do exposto. Não se trata de mera astúcia de negócios, o que seria algo comum, mas de um ethos.” (p.48).

Também percebemos na citação da página 46 uma preocupação com o crédito pessoal. (“Lembre-se que crédito é dinheiro.”). “O som do martelo às 5 da manhã” e o pagamento em dia das dividas são características que, segundo Weber, proporciona ao homem à abertura do bolso alheio. O dinheiro obtido não deve em hipótese alguma, segundo essa lógica, gerar divertimento e ócio, e sim, mais dinheiro. Abrir mão de lucrar mais é desperdício, portanto pecado.

Max Weber chama atenção para o fato das palavras que tem o significado do que hoje entendemos por “Vocação” como Beruf (no caso alemão) e Calling (no caso inglês), existirem, num apanhado histórico, nos países protestantes enquanto é ausente nos países predominantemente católicos.

A vocação protestante luterana já não esperava que o homem abandonasse a vida secular e aderisse à vida monástica. O trabalho, ou seja, a labuta diária já se constituía uma “missão”, uma “vocação”. Dessa forma, o autor percebe que o trabalho se transforma numa instituição sagrada, onde a obtenção do dinheiro (lucro) não mais é um ato condenável.

Através do estudo das quatro formas de protestantismo ascético; o Calvinismo, o Pietismo, o Metodismo e As seitas batistas, Weber pretende formular sua tese interessado “(...) na influência de tais sanções psicológicas originadas nas crenças e práticas religiosas, que orientavam a conduta prática dos indivíduos e assim os mantinham” (p.78).

O Calvinismo, inspirado em Calvino, foi a fé presente nos países de maior efervescência nos séculos XVI e XVII (Inglaterra, França e Holanda). A doutrina da predestinação é sua maior característica. Weber entende que o calvinismo substituiu a valorização do “monge ascético” pelo “homem laico predestinado” que aceita o destino recebido sem questionamentos: “Seus desígnios só podem ser por nos entendidos, ou mesmo conhecidos, à medida que seja do Seu (referente a Deus) agrado revela-los a nós” (p.81). “Ao fundamentar sua ética na doutrina da predestinação, ele (Calvino) substituiu a aristocracia espiritual dos monges, desligada do mundo e superior a ele, pela aristocracia espiritual dos santos predestinados de Deus no mundo”. (p.94). Dessa forma, podemos dizer que o Calvinismo forneceu os métodos para o indivíduo comprovar sua fé pelos meios seculares.

Assim como o Calvinismo, o Pietismo também se baseia na doutrina da predestinação. Todavia, podemos dizer que “(...) o efeito prático dos princípios pietistas foi um controle ainda mais estritamente ascético da conduta na vocação, o que fornecia uma base religiosa para a ética vocacional ainda mais sólida do que uma simples respeitabilidade mundana dos cristãos reformados, que eram vistos pelos pietistas mais rigorosos como uma cristandade de segunda classe”. (p.101).

O Metodismo, assim como o Pietismo, é caracterizado como “emocional”. A doutrina da predestinação foi substituída pela Certitudo salutis que era alguém, que redimido, em virtude da graça divina, obter, em vida, uma segunda transformação espiritual. “A regeneração do Metodismo criou, pois, apenas um complemento para a pura doutrina das obras, uma base religiosa para a conduta ascética depois que a doutrina da predestinação fora abandonada (...)” (p.109).

A ultima forma de Protestantismo Ascético diz respeito Ás seitas batistas. Com elas, Weber procurou abordar “(...) grupos religiosos cuja ética repousa em bases que diferem em princípio da doutrina calvinista”. (p.109). As seitas batistas rejeitaram a doutrina da predestinação, dessa forma podemos dizer que houve um enfraquecimento da concepção calvinista de vocação. “Contudo, uma vez rejeitada a idéia de predestinação, o caráter peculiarmente racional da moral batista apoiou-se psicologicamente, sobretudo na idéia da atitude expectante da descida do espírito, que mesmo hoje é característica do encontro Quaker”. (p.112).

A partir de então, Weber percebe que gradualmente as raízes religiosas vão dando lugar à secularidade utilitária. E a riqueza deixa de ter um caráter marginal: “(...) a riqueza seria eticamente má apenas à medida que venha a ser uma tentação para um gozo da vida no ócio e no pecado, e sua aquisição seria ruim só quando obtida com o propósito posterior de uma vida folgada e despreocupada”. (p.122). Os puritanos eram totalmente contra a prática de esportes e atividades de lazer (teatro, artes plásticas, etc.), pois “(...) de mais a mais, os grandes nomes do movimento puritano estavam profundamente arraigados à cultura renascentista”. (p.126). A resistência se dava quando eles interferiam (financeiramente ou fisicamente) no trabalho.

Poderíamos desta forma, dizer que “Este ascetismo secular protestante, tal como foi recapitulado até aqui, agiu poderosamente contra o desfrute espontâneo das riquezas; restringiu o consumo, em especial o do supérfluo. Por outro lado teve o efeito psicológico de liberar a aquisição de bens das inibições da ética tradicional. Quebrou as amarras do impulso para a aquisição não apenas legalizando-o, mas no sentido exposto, enfocando-o como desejado diretamente por Deus. A guerra contra as tentações da carne, e da dependência das coisas materiais era, entre os puritanos, como disse expressamente o grande apologista do quakerismo Barklay, não uma guerra contra a aquisição racional, mas contra o uso irracional da riqueza”. (p. 127 e 128). É preciso, ainda, distinguirmos que “não desfrutar das riquezas” não é um ato de avareza. A avareza compulsiva (que impede o gasto) e a desonestidade (que é o ganho ilícito) são altamente condenáveis pelo ascetismo.

Portanto, se a havia um ethos, legitimando a aquisição e o acúmulo de capital, e barreiras, impedindo o “desfrute das riquezas” a conseqüência mais provável seria um acúmulo de capital de acordo com a filosofia ascética de valorização “(d)aqueles que ganham tudo o que podem e guardam tudo o que podem”. (p.131)

Segundo Weber, a explicação da vocação e os mistérios nos desígnios divinos, foram fatores importantes ao arcabouço capitalista. A má distribuição de renda era justificada com uma explicação transcendental, dessa forma, a massa trabalhadora, continuaria na sua posição social, o que era muito importante, já que em países como a Holanda, institucionalizou-se a idéia de que os trabalhadores só labutariam se a necessidade os obrigasse a tal.